Angola - Guerra Colonial
Moç - Guerra do Ultramar

RAZÕES PARA MEDITAR - GUERRAS ULTRAMARINAS
A História estuda cada facto da guerra e os fenómenos que lhe deram origem para atingir determinados fins. No entanto, a guerra traz sempre consequências dramáticas para os intervenientes directos, mesmo que ajude a desenvolver tecnologias aproveitáveis para o bem-estar da humanidade. À Sociologia interessa o método comparativo que estuda os grupos e tipos de fenómenos que originam a guerra dentro do seio social de cada indivíduo ou grupo social que intervém na guerra, para defesa de objectivos da comunidade .
No caso Português, os avisos de que tudo estava a mudar no tocante aos povos colonizados não foram devidamente acatados pelos governantes nem pelos residentes nas colónias. Na Conferência de Bandung (Java-Indonésia), realizada em Abril de 1955, várias organizações internacionais e governos dos “países não alinhados”, tais como a Índia, Indonésia, Paquistão, Cuba, Egipto e outros influentes nas Nações declararam todo o apoio aos movimentos políticos criados nas colónias com vista à independência. Desde que a Índia ficou independente do Império Britânico, em Agosto de 1948, sempre pretendeu retirar à administração portuguesa todos os territórios encravados na costa do Malabar; as escaramuças agravaram-se quando a União Indiana invadiu Dadrá e Nagar-Aveli, em Junho de 1954, concluindo a invasão de Goa, Damão e Diu em vésperas do Natal de 1961. As consequências foram dramáticas para as tropas portuguesas, tendo ficado prisioneiros mais de três mil militares, os quais foram humilhados durante o cativeiro.
Os governantes portugueses demonstraram o mais vil desprezo pelos militares cativos, não aceitando as condições objectivas propostas pelos indianos com vista ao repatriamento. Essa demora causou mais indignação e sofrimento a esses compatriotas que lutavam pela sobrevivência em cada novo dia. Enquanto isso, em Angola, as autoridades e alguma imprensa tentavam esconder os efeitos da machadada desferida no moribundo Império colonial português, protagonizada pela União Indiana. Aproveitando a desgraça que atingia os militares portugueses destacados na “Índia Portuguesa”, foi organizado e posto em prática um insólito peditório público com vista à compra de um novo navio Afonso de Albuquerque para substituir o que foi afundado nas proximidades de Goa. A adesão foi grande e os fundos recolhidos avultados; mas nunca soubemos qual a sua aplicação. Alguém com a vil ganância, aproveitou-se para encher os bolsos!
Na década de 50, vários factores importantes, como a descoberta de minérios e petróleo de grande valor, levaram à formação de organizações políticas (movimentos) com vista à tomada do poder com a independência dos territórios portugueses. Essa era a bandeira de propaganda das Nações Unidas, e um grande número de colónias inglesas, holandesas, belgas e francesas negociaram a sua independência, tanto na África como na Ásia.
E o que fizeram as autoridades portuguesas?
Negligenciaram todos os indícios de mudança no contexto das nações; recusaram qualquer hipótese de negociação com representantes de movimentos independentistas; reprimiram todas as manifestações de protesto e fuzilaram parte dos seus cabecilhas. Enquanto isso, os “colonos” e os brancos nascidos nos territórios ultramarinos ajudavam na repressão, ministravam a justiça pelas próprias mãos e viviam na ilusão de que nada iria mudar. As consequências foram lamentáveis e prejudiciais para toda a sociedade portuguesa: com 14 anos de guerra, cerca de dez mil mortos, mais de trinta mil militares com graves deficiências físicas, mais de cem mil traumatizados por acções de combate e uma descolonização humilhante e indigna para quem sofreu na pele os reveses de tamanha hecatombe.
Lisboa, Junho de 1983
Joaquim Coelho
Combatente e repórter em Angola e Moçambique
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- Mercenários na Rodésia do Sul, deram-me condições
para uma Reportagem no Vietnam, em 1967:
No decorrer de uma conversa durante o curso de paraquedismo civil ministrado a familiares e amigos do Eng. Jorge Jardim, fui solicitado para o acompanhar numa deslocação clandestina à Rodésia do Sul onde pediu ao Presidente Ian Smith apoio de aviões; uns dias depois, aterraram e ficaram na BA10 5 aviões modernos, para reforço da Força Aérea.
Durante o tempo que permaneci na Rodésia do Sul, acompanhando o Eng. Jorge Jardim, soube da presença de “mercenários” recrutados por oficiais americanos entre os que eram desmobilizados na guerra do Vietnam. Aproveitei para marcar entrevistas com esse pessoal. Seguindo em boleia de táxi aéreo da Beira para Salisbury, fui fazer as entrevistas aos “mercenários” americanos. Durante as entrevistas conheci um dos angariadores: Capitão Ernest Medina, que estava de regresso ao Vietnam; pedi contactos em Saigão, onde me deslocaria para fazer reportagem com as tropas americanas. Foram-me indicados o Tenente William Calley, o Tenente Stphen Brooks e o Sargento Michael Bernharot.
- Comparações da nossa guerra com a do Vietnam:
Entre alguns oficiais e sargentos Paraquedistas havia debates sobre as diferenças das nossas guerras ultramarinas e as tropas americanas no Vietnam. Através de revistas e notícias recolhidas na redação do “Notícias da Beira”, tomamos conhecimento de problemas entre os militares americanos e o modo como eram reabastecidos de bens alimentares nos destacamentos das montanhas.
Para evitar dúvidas e afirmações descabidas, pedi apoio ao jornal “Notícias da Beira”, dirigido pelo Engº. Jorge Jardim, para a deslocação ao Vietnam em reportagem, no que fui prontamente atendido.
– Reportagem no Vietnam
A viagem realizou-se em 26 de Fevereiro de 1967 - Joanesburgo a Colombo-Ceilão (Sri Lanka) e Colombo a Saigão (Vietnam do Sul). Aterrei e desembarquei no aeroporto de Saigão pelas 10 horas locais e logo tive o acompanhamento do Tenente Brooks que me conduziu no jeep para o aquartelamento dos marines a norte de Saigão. No aquartelamento de Saigão (numa colina) tive o apoio do Soldado Ezequiel Torres, fluente em espanhol, que me apresentou o fotógrafo militar Ron Haeberle. Passados dois dias fui de helicóptero para o destacamento de Binh Long, mais de 100 km a norte de Saigão. Por lá passei algumas dificuldades no entendimento dos militares com a minha missão de repórter. Entre as dificuldades, fui impedido de fotografar e interrogar os soldados nas trincheiras, mas sempre consegui evitar mal entendidos. Regressei seis dias depois ao destacamento de Saigão, de onde tomei transporte para o aeroporto.
Mais de um ano depois de ter regressado a Moçambique, tive conhecimento que o dito Capitão Medina e o Tenente Calley estavam a ser julgados em tribunal, acusados de terem cometido crimes de guerra por participarem no massacre da população de My Lai. Fiquei surpreendido, porque encontrei bom acolhimento e apoio do Capitão Medina, quando o encontrei na Rodésia do Sul! Claro que, quem negoceia mercenários, nem sempre são pessoas de bom comportamento, muitas vezes gananciosos.
- A Viagem decorreu de 26Fev1967 - Joanesburgo (África do Sul) a Colombo, Ceilão (SriLanka) e Saigão (Vietnam do Sul); com regresso em 07Março1967.
- HISTÓRIA de uma guerra iniciada em 1965 e terminada em 1973, com a retirada dos americanos. Morreram mais de 4 milhões de vietnamitas e apoiantes do Laos, cerca de 59 mil americanos e deixou mais de 300 mil traumatizados mentais.
União Soviética e China protestaram contra Washington; Reino Unido e Austrália apoiaram a ação norte-americana. Em 9 de fevereiro de 1965, um batalhão de fuzileiros navais fortemente armados desembarcou em Da Nang, no Vietnam, cumprindo uma ordem do presidente norte-americano Lyndon Johnson, para proteger uma base aérea dos Estados Unidos na localidade.
Foi o primeiro envio de tropas de combate ao Vietnam do Sul. Houve uma considerável reação ao redor do mundo a esse novo estágio de envolvimento dos EUA na guerra. Como era de se esperar, tanto a União Soviética como a China ameaçaram intervir se Washington continuasse aplicando o poderio militar a favor dos sul-vietnamitas. O Reino Unido e a Austrália apoiaram a ação dos EUA, mas a França (ex-metrópole do Vietnam) pediu negociações, mas a guerra continuou.






Reportagem em Caxemira:
A pedido do Diário de Notícias e pago pela família Ramchand, comerciantes paquistaneses que conheci em Moçambique. Porque não sabiam dos familiares residentes em Caxemira, desde que começou a guerra em 1998. Estando eu na Alemanha, parti para Paris e fiz a viagem para o Paquistão com dois jornalistas do Paris-Match, conhecidos da reportagem que fizemos, em 1997, na revolta do Kosovo-Préstina, onde encontramos um jornalista brasileiro e partilhamos a logística, porque ao fim de três dia não havia nada para comer na capital Prestina - lojas e restaurantes incendiados!
Chegados a Islamabad, seguimos de autocarro para Muzaflarabad, onde estariam os familiares do grande comerciante moçambicano Ramchand. Dirigi-me a um taxista tradicional que me levou ao encontro da morada que procurava. Não encontrei as pessoas que me indicaram, mas um logista vizinho informou que aquela família se tinha deslocado para Srinagar, onde tinham lojas. Enquadramo-nos numa coluna de camiões em preparação para seguir com uma patrulha militar paquistanesa para o Vale de Caxemira. Já na estrada para Srinagar, fomos barrados por militares indianos que nos aconselharam a retroceder, devido aos intensos bombardeamentos da aviação indiana contra as patrulhas paquistanesas infiltradas nas montanhas a norte de Srinagar. Ficamos retidos num espaço rural durante dois dias, tivemos que nos abrigar nos túneis abertos pelos camponeses para não morrerem com as bombas dos aviões, mas conseguimos chegar a Srinagar e lá encontrei a família Ramchand. Fiquei dois dias a inteirar-me da situação e segurança; não mostraram receio de retaliações, mas temiam o saque das duas lojas que mantinham abertas.
Passados os dias difíceis, despedi-me dos jornalistas franceses que pretendiam fazer reportagens até às montanhas… Mais uma vez me socorri dos camionistas que, a troco de dinheiro nos levaram para Mirpur, num autocarro velho. Depois de dois dias em conferência com outros jornalistas, aproveitei para conhecer esta linda cidade bem organizada e com bom clima junto de lagos e rios aprazíveis. Com a missão cumprida, apanhei um autocarro para o aeroporto de Islamabad e voltei a Lisboa, via Paris.
















Israel ataca Líbano, 1973

