tota3.coelho
18 de jul. de 2017
Debate e Opiniões
Depois da guerra em Angola, onde fundamentei a minha razão de basculhar tudo até encontrar a verdade, passados os anos do desespero e os efeitos da matança de 1961, comecei a perceber a dimensão do confronto de interesses dos países potencialmente desenvolvidos à custa da desgraça que caiu sobre os povos residentes nos países com grandes quantidades de matéria-prima e reservas minerais de grande consumo nos países industriais mais avançados.
Por causa das riquezas alheias, desencadeiam-se guerras que dilaceram os países em construção. Angola e Moçambique poderiam ter-se desenvolvido harmoniosamente e em paz se não estivessem por trás os interesses dos gananciosos pelas ricas reservas naturais emergentes nesses países. E, só de pois de tudo desintegrado pelas máquinas de guerra, tomamos consciência do que se perdeu, incluindo os laços de amizade e os meios onde nascemos e vivemos em harmonia com a natureza.
Os danos da guerra são dolorosos e deixam feridas difíceis de curar. Além da destruição dos bens, perdem-se amizades e as relações entre seres humanos não valorizam a vida na sua essência. É contra todas essas perdas que procuro reagir dando valor à riqueza que nos resta - fortes laços de amizade e camaradagem porque, entre os intervenientes nas guerras, esses valores foram a trave mestra a segurar a frágil condição humana de muitos combatentes, nos primeiros tempos de missão. Alguns perderam a bússola das suas vidas, numa agitação anormal da consciência e das emoções; não fora a mística do companheirismo e a desgraça dos traumatizados teria atingido uma dimensão muito mais grave e penosa.
Joaquim Coelho
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